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quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Google e Meio ambiente

O Google, gigante das buscas e publicidade na Internet, cada vez mais considera o setor de energia como possível oportunidade de negócios.

Desde que foi criada, a empresa investiu centenas de milhões de dólares para melhorar a eficiência energética de seus centros de processamento de dados, que consomem muita energia. A divisão de filantropia do grupo realizou pequenos investimentos em tecnologias de energia limpa.

Mas nas últimas semanas, o presidente-executivo do Google, Eric Schmidt, deu a entender que a empresa tinha interesses mais amplos no setor de eletricidade. Ele também se uniu a Jeffrey Immelt, o presidente-executivo da General Electric, para anunciar que as duas empresas colaborariam quanto ao desenvolvimento de normas e tecnologias para melhora da rede elétrica. Os esforços poderiam incluir a oferta de ferramentas de energia para uso pelos consumidores.

Enquanto isso, os engenheiros do Google esperam apresentar em breve ferramentas que possam ajudar os consumidores a tomar melhores decisões sobre seu uso de energia.

E embora a unidade filantrópica da empresa, conhecida como Google.org, tenha investido em empresas iniciantes de energia como um grupo que utiliza pipas para recolher energia eólica, agora a companhia está considerando investimentos pesados em projetos que gerariam eletricidade de fontes renováveis.

"Queremos ganhar dinheiro e queremos exercer um impacto", disse Dan Reicher, diretor de iniciativas de energia e de combate às alterações climáticas na Google.org.

O momento talvez não seja o mais propício. Com uma recessão já em curso e a queda nos preços do petróleo, é possível que os investidores pressionem o Google a moderar suas ambições no campo da energia.

As ações da empresa perderam mais de metade de seu valor desde o ano passado, e alguns analistas se queixam de que ela tem um longo histórico de se envolver com iniciativas novas e nem sempre bem sucedidas. O Google continua a depender de um negócio apenas - a veiculação de pequenos anúncios de texto vinculados a resultados de busca, em seu site, e em posições contextuais em outros sites - para a maior parte de sua receita.

O sucesso do Google online não garante sucesso no setor de energia. Mas nada disso impediu que o Google se envolvesse de maneira mais profunda no setor de energia alternativa. Para apoiar esses esforços, a empresa contratou crescente número de profissionais, que estão conduzindo pesquisas sobre energias renováveis - engenheiros, antigos funcionários das agências de energia do governo, cientistas e até mesmo um antigo astronauta da Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço (Nasa), cuja experiência prática no uso de toda espécie de equipamento eletrônico está sendo aplicada ao desenvolvimento de ferramentas de energia para os consumidores.

"Eles são muito ativos no ramo da energia", disse Daniel Kammen, professor do grupo de energia e recursos naturais da Universidade da Califórnia em Berkeley e assessor de energia da campanha de Barack Obama. "O Google está na vanguarda não só em termos de dinheiro como em termos de recursos humanos".

No ano passado, a empresa revelou uma ambiciosa iniciativa chamada RE

O esforço também inclui um grupo pequeno mas crescente de engenheiros, na companhia, que estão conduzindo pesquisas e desenvolvimento de tecnologias desse tipo, que o Google afirma podem vir a ser comercializadas no futuro.

O Google.org também anunciou no ano passado um projeto para o desenvolvimento de veículos híbridos com baterias recarregáveis via tomada. Para criar ampla disponibilidade, a rede elétrica teria de ser atualizada de modo a permitir que automóveis sejam carregados em múltiplos locais, e de uma maneira que permitisse que os consumidores da energia sejam cobrados por isso.

A empresa diz que estão interessada em desenvolver tecnologia que apóie essas evoluções, bem como outras ferramentas que operem na interseção entre a energia e a tecnologia da informação, a exemplo de relógios de luz "inteligentes". A parceria com a GE tem por objetivo, ao menos em parte, explorar algumas dessas oportunidades.

O Google é conhecido por agir de maneira sorrateira. O serviço de buscas manteve suas ambições no ramo de publicidade ocultas durante alguns anos, uma estratégia que a ajudou a se tornar a empresa dominante de tecnologia no Vale do Silício. E com reservas de caixa de US$ 14,5 bilhões em seus cofres, dispõe de amplos recursos para continuar investindo em novos empreendimentos de energia.

Os esforços do Google na área da energia continuam relativamente modestos. A empresa há muito vem dizendo que dedica 70% de seus recursos ao segmento de buscas e publicidade que forma seu negócio central, outros 20% a segmentos relacionados, como diversos aplicativos disponíveis via Internet, e 10% a projetos estratégicos de longo prazo. O trabalho no ramo de energia se enquadra a essa última categoria.

Mas há investidores que podem considerar que até mesmo uma divisão como essa representa exagero.

"Com a queda das ações a menos da metade de seu valor e a crescente frustração dos acionistas, muitas dessas iniciativas serão colocadas em questão", disse Ross Sandler, analista da RBC Capital Markets. "O Google é uma empresa de buscas e publicidade. O momento é de apertar os cintos. Eles deveriam se concentrar em seu negócio principal".

E outras pessoas continuam a levantar questões sobre alguns dos objetivos da empresa.

"Os caras do Vale do Silício têm essa idéia de que será possível obter energia solar mais barata que a energia gerada pela queima de carvão", diz John White, diretor executivo do Centro de Tecnologias de Energia Eficiente e Renovável. "Para mim, essa é a idéia errada. Não acredito que precisemos de energia solar mais barata que o carvão para que haja sucesso. O foco deveria estar no investimento e em como colocar essa tecnologia no mercado".

Os interesses comerciais e filantrópicos do Google pela energia emergiram, em larga medida, da interseção entre o idealismo que move a empresa e seus objetivos de negócios.

O Google se esforça imensamente para ocultar o quanto seus centros de processamento de dados consomem de eletricidade. A empresa afirma que o uso de energia de suas instalações é uma informação que poderia servir para que rivais descobrissem segredos sobre seus métodos, algo que ela vê como uma de suas vantagens competitivas.

Ainda assim, diversos relatórios permitem que se faça idéia sobre as dimensões de seus centros de dados. Acredita-se que a companhia opere cerca de duas dúzias de centros de processamento de dados, de tamanhos diferentes, espalhados pelo mundo. Alguns deles, como o que a empresa construiu em The Dalles, Oregon, acionado em larga medida por energia hidrelétrica, estão entre os maiores do setor. Duas pessoas familiarizadas com a operação daquele centro de processamento de dados, que falaram sob a condição de que seus nomes não fossem revelados, dizem que ele consome cerca de 50 megawatts de energia, o suficiente para abastecer 37,5 mil residências, mas que foi construído para operar com capacidade ainda maior.

O Google não mantém uma separação clara entre as atividades de energia de sua porção corporativa e as da Google.org. Uma recente reunião sobre os planos do segmento incluía funcionários vindos dos dois lados. O Google.org foi estabelecido não como uma organização filantrópica tradicional, mas como uma divisão do Google que pudesse lucrar com seus investimentos e assim, ao contrário das organizações sem fins lucrativos tradicionais, ter o direito de fazer lobby.

Os executivos responsáveis pelo desenvolvimento de negócios no Google, bem como alguns dos engenheiros especializados em energia na empresa, trabalham com o Google.org para tomar decisões de investimento. Reicher, antigo secretário assistente de conservação de energia e energia renovável no governo Clinton, disse que os investimentos do Google.org eram direcionados primordialmente a promover uma agenda ambiental. Mas o Google mesmo está pensando em projetos que requereriam uso mais intenso de capital, entre os quais alguns que envolveriam geração de energia renovável em escala comercial.

"Se realizarmos esses investimentos", disse Reicher, "seria mais para fins de lucro do que para fins de impacto".


The New York Times